3 de fevereiro de 2011

AMOR MUDO

Eles se viam todos os dias. Seus olhares eram a ponte que os unia. Seus sorrisos eram pinturas de um amor expontâneo. Seus olhos permitiam, a cada um, preencher-se no mais intimo um do outro. Sempre nos mesmo horários, após acordarem, antes do almoço, antes e após assistirem a série preferida deles. No fim do lanche da tarde, após a janta e antes de dormir. Já com as estrelas no céu e a lua clareando a noite (por sinal, o horário preferido de ambos). Nesses momentos sempre conseguiam ficar frente a frente. Mesmo a uma pouca distância,  eles encontravam uma felicidade jamais sentida em toda a vida deles. Uma sensação de alegria transcendental, nunca vivida na amplitude das sensações anteriores, aos quais eles, naturalmente, estavam a mercê. Encontravam nessa nova maneira de viver, uma fonte prazerosa de amor. Amavam-se plenamente.

Viviam separados mas na essência, juntos. Fitavam-se e, apenas nesse ato simplório, sentiam se capazes de compartilhar as mais tenras e doces declarações. Era fantástico o tamanho entendimento que tinha sobre cada um. Simplismente encantador aquela ternura que se findava em seus encontros distantes. Os momentos em que se uniam seus olhos eram os quais mais davam razões as suas vidas. 

Tudo o que aparentemente os impedia de viver já não importava. Viver era uma realidade visível. Tudo parecia valer a pena. Essa paz grandiosa que se firmava entre suas almas bordava um amor imensurável, de rara beleza. Como se a doçura em volta compusesse melodias únicas, embalando as horas em que se amavam com o olhar. Tudo era minimamente encantador. O resvalo no ar só escondia um amor puro, difícil de ser visto hoje em dia.

Ele num prédio, ela noutro. Ambos tetraplégicos. Ambos mudos. Ambos se viam apenas pela janela, a uma distância de alguns metros. E nos raros momentos em que suas mães os colocavam de frente para a janela, para admirarem o mundo la fora e respirarem ar puro, eram os minutos mais felizes de suas vidas. E assim, amavam-se, pela distância curta que suas residências tinham uma da outra; pela janela, que abria as portas de um amor que jamais alguém imaginou, mais surgiu. 

Muito mais do que qualquer coisa, eram pelos olhos, as janelas das suas almas, que ambos verdadeiramente se presenteavam e adentravam no mais intimo de cada um. E assim descobriram-se, numa das mais ternas e emocionantes intervenções do amor de Deus. E assim encontravam-se todos os dias, com a intenção singela de se amarem e serem felizes. Para os dois, nem todos os obstáculos que a nova vida os oferecia, era capaz de impedir essa magia que encontravam um no outro. Tudo parecia possível e pequeno quando estavam um dia do outro.

Jamais deixaram de ser ver, deste que descobriram o amor um no outro. Porém, ouve um dia em que, curiosa-mente, ele não há viu do outro lado da janela. Isso o atormentou muito. E para alguém que não podia esboçar ou fazer qualquer gesto, nem falar, era imensamente frustante (e doloroso). Mas antes que seus olhos derramassem lágrimas, sua mãe entrou no quarto. ''Filho, adivinha quem veio te visitar?''. E com um  leve aceno no rosto, sua mãe confirmou ''Ela!''  Seus olhos brilharam e, com uma das poucos coisas que ele sabia fazer de melhor, ele sorriu, o sorriso mais bonito de sua vida. E não era preciso traduzir mais nada do que ele sentia. Mas nada...

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